“Folclore Político” apresenta a política visto pelo lado dos bastidores, e não do palco. Nos seus 50 anos de jornalismo, o senhor acostumou-se a apresentar aos leitores esse ponto de vista. Por que essa opção?
As histórias que eu conto no livro mostram a verdadeira face dos políticos. Uma coisa é o retrato oficial, feito de discursos e pronunciamentos. Outra é como os políticos agem e falam nos bastidores. A política é um espetáculo: os políticos estão no palco. O que o brasileiro em geral recebe é o espetáculo do palco, feito com a ajuda nos marqueteiros. No dia-a-dia é outra coisa. Na história oficial, a política é lida. Em “Folclore Político”, ela é falada. Ou você apresenta as história do palco ou a dos bastidores, que é o que eu faço.
Pois é, o livro traz histórias contadas na hora do cafezinho, nos restaurantes, nos corredores do Congresso, nos bastidores e fontes do gênero. Como saber se determinada história é verdadeira ou não?
A grande maioria das histórias é verdadeira. O problema é que são contadas sem documentação. Mas não deixam de fazer parte da História. É a História sem documentos. Em geral, são as coisas que os políticos falam para não ser publicado.
“Folclore Político” é uma forma de contar a História do Brasil?
Sim. Você tem o lado do palco, que tem que ser considerado, mas também o retrato verdadeiro de como a pessoa é. A verdade da História não é só a do palco, mas também a da coxia. O Lula não é só o Lula da Globo, mas também o metalúrgico de São Bernardo.
Ao ler o livro, tem-se a nítida sensação de que os políticos, em sua intimidade, em sua humanidade, são até melhores do que a imagem que se tem deles. Isso é verdade?
Sim. Políticos são melhores no particular do que no público. No público eles são sempre meio falsos. Mostrar esse lado humano deles até contribui para melhorar a imagem da categoria. Geralmente, eles são cidadãos melhores do que se apresentam. Com muitos eu convivi bastante e conheci bem. Por exemplo, Juscelino era melhor no particular do que no público. As histórias de Juscelino que eu mostro no livro nasceram do convívio com ele, assim como Jânio e muitos outros.
E como era o Jânio da intimidade?
Era um artista. Convivi muito com ele, sobretudo depois da cassação. Ninguém até hoje fez um retrato tão fiel do Jânio como eu fiz. Ele era um fenômeno: bastava aparecer um engraxate, um pipoqueiro, enfim, alguém do povo, e ele pulava para o palco, se transformava. Passava a ser outro homem. Em geral ele era inteligente, simpático, brilhante, e tinha essa incrível capacidade de mudar o tom de uma hora para outra. Tudo o que ele parecia, não era. Era um personagem, e se administrava como personagem.
“Folclore Político” foi um imenso sucesso na década de 70, saindo em vários volumes, sempre com histórias novas. Agora o senhor resume todas em um livro só. Aproveitou para colocar também algumas histórias novas?
O livro tem 30 anos de pesquisa e faz parte de uma carreira de 50 anos. São, como você falou, cinco volumes em um, e com as ilustrações que foram usadas originalmente. Além disso, se há uma vaidade profissional que eu tenho é o fato de ser um jornalista nacional, e não só de São Paulo, Rio e Brasília. “Folclore Político” traz histórias dos 27 Estados brasileiros, e assim como fiz com um livro anterior, “A Eleição da Reeleição”, pretendo fazer o lançamento em todos os Estados. Sobre novas histórias, o livro tem centenas delas, de políticos que estão aí, como Itamar, Brizola, FHC, Newton Cardoso, a história do Serra avisando ao Medeiros, lá no início da corrida eleitoral, de que iria “passar por cima” de quem estivesse em seu caminho, e que acabou revelando-se profética…
E por falar em FHC e em Lula, que você citou no começo da entrevista, a célebre pergunta que todos estão fazendo a todos: O que espera do novo governo?
Eu acho que no Brasil realmente a esperança derrotou o medo. Aprendemos que somos um país rico demais para ser dado de graça. FHC cometeu seu último crime, que foi dar o Brasil tão barato como fez. Lula não vai cometer esse crime. Duas palavras que Lula vai ter como norte: negociar e soberania. Porque não dá mais para acontecer o que houve nesse ano, quando 30% dos lucros foram para os bancos e 1,5% para as empresas. Isso não aconteceu nem na Idade Média, no colonialismo europeu ou no imperialismo. É mais velho, do tempo de Herodes. Fomos piores do que medievais.