Piscicultura: a biodiversidade do rio Madeira, habitat de cerca de 750 espécies de peixes, estará em perigo se não forem tomadas medidas adequadas.
Simone Silva Jardim, de São Paulo e Minas Gerais.
O projeto das novas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que o governo pretende construir no rio Madeira, é mais amplo: a ele será somada a navegação deste imenso curso d’água. Tanto as hidroelétricas como a navegação causarão dramáticas mudanças na ecologia fluvial, dificultando bastante a sobrevivência, trânsito e reprodução dos cardumes. Se não forem tomadas medidas urgentes de proteção, como as preconizadas pelo ambientalista Johan Dalgas Frisch, e se não forem desenvolvidos projetos modernos e eficientes de piscicultura, a singular biodiversidade do rio Madeira, habitat de aproximadamente 750 espécies de peixes, estará em perigo. Nos anos 70, Dalgas Frisch desenvolveu um programa em conjunto com a Eletrobras, que deu ao então presidente da estatal, Antônio Carlos Magalhães, o título de Ecologista do Ano. Conheça um pouco desta história, pois ela deve se repetir agora com as novas hidroelétricas da Amazônia.
Johan Dalgas Frisch com seus amigos Amador Aguiar (Bradesco) de Omar Fontana (Transbrasil) e Assis Chateaubriand (Diários Associados) foram protagonistas de várias façanhas ambientais no Brasil, como a criação do Dia da Ave, demarcação do Parque do Tumucumaque, estudo das aves migratórias e peixamento das barragens das hidroelétricas. Para Dalgas, Amador Aguiar, presidente do Bradesco e da APVS, foi um pioneiro na luta pelo desenvolvimento em harmonia com a natureza.
O industrial e ambientalista John Dalgas Frisch, 79 anos, além de ornitólogo, é presidente da APVS – Associação de Proteção da Vida Selvagem. Ele tem sua história de vida ligada às questões ambientais, como pioneirismo na gravação dos cantos dos pássaros brasileiros, criação do Parque Tumucumaque, campanhas de arborização nas cidades para atender às necessidades de proteção e alimentação das aves, estudo sobre aves migratórias e, também, no repovoamento de peixes nas barragens brasileiras.
Na era da responsabilidade social e do ambientalmente correto, mesmo quem está no comando de grandes empreendimentos como estes, admite que o impacto ambiental é grande tanto para as populações ribeirinhas desalojadas como para as espécies da fauna e flora nativas. Especialmente em seus primeiros tempos de operação.
“Hoje, sabemos medir estes impactos e evidente que temos como minimizá-los”, explica o presidente da ANEEL, Jerson Kelman, e acrescenta: “O Brasil não faz e não tem mais o lema do desenvolvimento a qualquer preço. Ainda mais na Amazônia”.
Hoje, menos repudiados e mais ouvidos, militantes e estudiosos estimam que os novos complexos hidroelétricos imporão aos peixes da Amazônia, fonte de alimento e de obtenção de renda de milhares de famílias carentes, um impacto ambiental de grandes dimensões. Para se ter idéia do problema, estão sendo planejadas mais de 60 barragens nos mais importantes rios da Amazônia. Na região, nada menos que 322 áreas entre as mais ricas em espécies estarão expostas a toda essa pressão.