SÃO PAULO  – Siqueira Campos, chefe da conspiração revolucionária em São Paulo nos primeiros dias de 1930,  chamou o jornalista  Oscar Pedroso Horta, redator do “Estado de S. Paulo”:

-É preciso renovar os códigos de comunicação entre nós e Prestes, que está em Buenos Aires, trazer de lá um aparelho de rádio mais possante e levar uma série de mapas para ele organizar os planos do levante. Mas não esqueça: são mapas de guerra, privativos das Forças Armadas. Você vai cometer um crime de alta traição à Pátria. Topa?

-Topo.

Pedroso Horta pegou de manhã um avião da “Nirba” numa praia de Santos, chegou a Porto Alegre ao anoitecer, almoçou em Montevidéu e na noite seguinte estava em Buenos Aires com aquele rolo imenso de mapas debaixo do braço. Foi para o hotel. De manhã procuraria Prestes.

De repente, um homenzinho muito magro, calçado com botinas de elástico, bate na porta do quarto:

-Sou o comandante Luís Carlos Prestes. O senhor não é Oscar Pedroso Horta? Trouxe uma encomenda de São Paulo para mim?

-Não o conheço. Vim a negócios e não trouxe nada para ninguém.

 

PRESTES

O homenzinho muito magro foi embora. Pedroso Horta trocou logo de hotel, pegou um táxi e foi ao endereço de Prestes, que Siqueira Campos lhe tinha dado. Bateu na porta. Alguém abriu. Era exatamente o homenzinho muito magro, Luis Carlos Prestes.

Siqueira se comunicava com ele, pelo rádio. Prestes disse a Pedroso:

-Foi uma loucura trazer esses mapas na mão. Não voltará mais de avião e sim de navio. Tem dinheiro?

-Para uma semana.

Prestes lhe deu 2 mil pesos, recomendando que gastasse nas boates de Buenos Aires e se distraísse, missão que cumpriu com o maior prazer. Três dias depois, entregou-lhe passagem de um navio da Mala Real Inglesa, um rádio, uma série de códigos e uma carta para Siqueira.

 

PEDROSO

Pedroso Horta desembarcou tranquilo em Santos. Quando Siqueira Campos abriu a carta, ficou perplexo. Luís Carlos Prestes dizia que todos  estavam sendo tapeados por Getúlio, então governador (presidente) do Rio Grande do Sul. Não ia haver revolução nenhuma.  Ele, Prestes, ia largar tudo e fazer um movimento próprio, porque Getúlio estava negociando às escondidas com Washington Luís.

Siqueira Campos ficou desesperado e resolveu discutir o assunto pessoalmente com Prestes, em Buenos Aires. Comunicou-se com Juarez Távora, que estava no Nordeste, marcou encontro com João Alberto e Estilac Leal em Porto Alegre e foram juntos.

Prestes tinha fundado em Buenos Aires a “Liga de Ação Revolucionaria”, de caráter marxista. E se propunha a retomar e realizar a conspiração que, segundo ele, “estava sendo traída por Getúlio”.

SIQUEIRA

Dias depois, Pedroso Horta entrava na redação do “Estadão” e as rádios davam a morte dele em um desastre aéreo. Na volta de Buenos Aires o avião em que vinham Siqueira Campos e João Alberto caíra perto de Montevidéu. E Siqueira viajara com a carteira de identidade de Pedroso.

Espantosamente, Siqueira, que era bom nadador, morreu. E João Alberto, pífio nadador, salvou-se.Inventaram uma série de histórias, tudo infâmia. João Alberto era de uma dedicação e fidelidade totais a Siqueira, A policia paulista saiu atrás de Pedroso, que fugiu para o Uruguai.

 

“NINGUEM ME CONTOU”

Volto hoje a São Paulo para  o programa de talento e sabedoria do consagrado ator e diretor de teatro Abujamra – “Provocações” – na TV Cultura, sobre meu livro “Ninguém de Contou Eu Vi –  De Getulio a Dilma” – Geração Editorial (que aliás está estourando nas livrarias do  pais)

Um dos capítulos de que mais gosto é o perfil e longa entrevista com o inesquecível Oscar Petroso Horta, sábio paulista de 500 anos.

A historia brasileira é cruel. A cada época alguém se sacrifica lutando pela Pátria. Quando soube da tragédia com o saudoso Eduardo, logo me lembrei do Siqueira  Os dois eram Campos, embora não parentes, e morreram em desastre aéreo, vindo para São Paulo fazendo belas lutas.