TEMPOS
DE JANIO
RIO – Em 1968, nos turvos dias entre a passeata dos 100 mil no Rio e o AI-5, Jânio Quadros, cassado e longe de qualquer atividade política (ficou fora até da Frente Ampla de Juscelino e Lacerda) pediu ao deputado estadual Fernando Perrone, do MDB de São Paulo, um encontro com a esquerda. Queria conversar mais para saber melhor.Perrone, líder estudantil ligado ao Partido Comunista, inteligente e atuante, tinha amigos nos vários grupos da esquerda que começavam a se preparar para a luta armada.
Na primavera e invasão de Praga pelos tanques soviéticos. Perrone tinha estado lá e fez um belo livro-depoimento. Depois do AI-5, foi para Paris, onde seu apartamento era uma embaixada da esquerda paulista exilada: Aloysio Nunes Ferreira, José Aníbal, Itobi, tantos outros.
PERRONE
O encontro com Jânio Perrone não quis fazer na casa dele porque muitos já estavam na clandestinidade. Arranjou a suíte do Hotel Comodoro, no centro, na Duque de Caxias. Jânio e Perrone, legais, chegaram primeiro. Os outros foram entrando, um a um, separadamente, cheios de cuidados.
Um deles, já na legalidade, estava se separando litigiosamente da mulher, que contratou dois detetives, de máquina fotográfica em punho, para pegá-lo em flagrante de adultério. A mulher, dentro do carro, viu o marido chegar sozinho. Os detetives subiram atrás e tocaram a campainha.
Como ainda faltava um, Perrone abriu naturalmente a porta. Os flashs das máquinas começaram a pipocar e os detetives entrando gritando:
– Cadê a mulher? Cadê a mulher?
Não havia mulher nenhuma. Foi uma correria louca, todo mundo saindo aos empurrões, escada abaixo. Perrone ficou com Jânio, que, sentado a um canto, com seu uísque na mão, arregalava os olhos e interrogava os detetives:
– Se-nho-res, o que é is-so? Não es-tou en-ten-den-do!
Eles também não.
A “base aliada” de Dilma está como Janio : sem entender nada. Quanto menos senadores e deputados elegeu, mais o PT quer impor.
LULA
Outra historia. Jânio era governador de São Paulo em 1955 e apoiava a candidatura de Juarez Távora (UDN) a presidente da República, contra Juscelino (PSD-PTB) e Ademar (PSP). Lacerda reclamou que a campanha de Juarez em São Paulo estava fraca. Jânio fez uma grande reunião com secretarias, presidentes de empresas estatais, empresários e banqueiros:
– Como sabem os senhores, o general não pode perder em São Paulo. Seria o fim de minha vida publica. Vamos mobilizar apoios, recursos, muitos recursos. Temos que conseguir imediatamente umas 140 “peruas”.
Entra na sala o deputado Fauze Carlos, amigo de Jânio, e lhe mostra a última pesquisa nacional, com Juarez na frente. Jânio disse a Fauze: – Va-mos pa-rar, meu ca-ro, se-não o ho-mem ga-nha!
A sala ouviu, não entendeu nada, sobretudo quando ele encerrou a reunião. Jânio queria que Juarez ganhasse em São Paulo, mas não demais, para não ganhar no País, porque ele já era candidato a presidente em 1960 e preferia disputar na oposição, como sempre fez quando ganhou.
Juarez ganhou em São Paulo, Ademar no Rio e Juscelino no País. Como Jânio queria, já pensando em 1960.
Lula é o Janio de agora. Vai ficar o tempo inteiro de olho em Dilma. Não quer que ela faça um bom governo porque isso pode atrapalhar seus planos. Lula acha que quanto mais o pais estiver em dificuldades mais espaços haverá entre “o povão” para uma candidatura dele em 2018.
CAMARA E SENADO
Está tudo errado. Estão pisando na Constituição e chutando para debaixo da mesa. O presidente da Câmara Federal, deputado Henrique Eduardo, foi “chamado”, “convocado” pelo ministro da Casa Civil Aloisio Mercadante para uma reunião no palácio do Planalto.E foi.
Ora, o presidente da Câmara é o terceiro homem na liturgia da Republica. Acima dele só a Presidente e o vice-presidente. Quem tinha que chamar, convocar, era ele. E o ministro da Casa Civil, se queria reunir-se com ele, é quem tinha que ir à Câmara. É assim nas democracias.
A “Folha”: “A expectativa é de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, seja chamado (!) para uma conversa com o ministro Berzoini”.
O presidente do Senado é o chefe do Poder Legislativo. Como pode ser “chamado” por um ministreco qualquer? O ministro é que tem que ir.
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