SALVADOR – Ninguém me contou. Eu vi. Estava lá. Às 19 horas de um sábado, em 1978, no “hall” do Hotel Praia-Mar, em Salvador, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Roberto Saturnino e Freitas Nobre receberam a visita da direção do MDB da Bahia com a notícia nervosa:
– A Polícia Militar cercou a praça do Campo Grande e comunicou oficialmente ao MDB que não vai permitir a reunião para lançamento das candidaturas da Oposição da Bahia ao Senado.
– Isto é ilegal, disse Ulysses. A portaria do Ministério da Justiça proíbe concentrações em praça pública, mas não em recinto fechado. A sede do partido é inviolável.
Ulysses esfregou as mãos na testa larga, desceu pelos olhos fechados, levantou-se:
– Vou entrar de qualquer jeito. Vamos entrar. É uma arbitrariedade sem limites.
ULYSSES
Em vários automóveis, saímos todos, políticos e jornalistas. Foi marcado encontro em frente ao Teatro Castro Alves, do outro lado da sede do MDB.
A praça era um campo de batalha: 500 homens de fuzil com baioneta calada, 28 caminhões-transporte, dezenas de patrulhas, lança-chamas, grossas cordas amarradas nos coqueiros em torno da praça. Ulysses olhou, meditou, comandou:
– Vamos rápido, sem conversar.
Avançou. Atrás dele, Tancredo, Saturnino e a mulher, Freitas Nobre, Rômulo Almeida, Newton Macedo Campos e Hermógenes Príncipe (os três candidatos do MDB ao Senado), deputados Nei Ferreira, Henrique Cardoso, Roque Aras, Clodoaldo Campos, Aristeu Nogueira, Tarsílo Vieira de Melo Filho, Domingos Leonelli, vereador Marcello Cordeiro, Nestor Duarte Neto, eu e outros jornalistas. Uma cerca de fuzis e os soldados impávidos. Quando nos aproximamos, um oficial gritou:
- Parem! Parem! Ninguém passa!
O COMÍCIO
Ulysses levantou os braços e gritou mais alto:
– Respeitem o presidente da Oposição!
Meteu a mão no cano de um fuzil, jogou para o lado, atravessou. Tancredo meteu o braço em outro, passou. O grupo todo foi em frente. Três imensos cães negros saltam sobre Ulysses. Freitas Nobre dá um ponta-pé na boca de um. Rômulo Almeida defende-se de outro. Chegamos todos à porta do partido, entramos aos tombos e solavancos.
Ulysses chega à janela, ligam os alto-falantes para a praça:
– Soldados da minha Pátria! Baioneta não é voto, boca de cachorro não é urna!
E seus cabelos brancos se iluminavam como os coqueiros ao vento.
Era o comício que não tinha sido planejado: 14 discursos e uma passeata. Graças à batalha de Itararé da Bahia.
O LIVRO
Livro é como banana na feira. Se o feirante não anuncia o freguês não compra. Continuo minha maratona nacional de lançamento de meu último livro, “NINGUÉM ME CONTOU EU VI – De Getúlio a Dilma” (Geração Editorial – São Paulo).
Cada semana uma capital. Na semana passada foi no Recife. Ontem, terça-feira, aqui em minha Salvador, na Livraria Cultura (Salvador Shopping). Uma onda de autógrafos.
PETROLÃO
Quem duvidava que a Procuradoria Geral da República e a Justiça Brasileira fossem cumprir seu dever e explodir o escândalo da Petrobrás enganou-se. O juiz Moro do Paraná e o ministro Teori do Supremo estão escrevendo uma nova e magnífica página na história do pais.
FERIAS
Como todo ano, desde 1952, quando entrei pela primeira vez em um jornal, janeiro é férias, férias é na Bahia e Bahia é Jaguaquara.
Volto em fevereiro.
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