RIO – O PT não nasceu em São Bernardo, São Paulo. Nasceu em Criciúma, Santa Catarina, Em 1978, o jovem prefeito de Criciúma Walmor de Luca, líder estudantil de esquerda, deputado federal de 1974 no levante eleitoral do MDB, realizou um seminário trabalhista nacional com os grupos políticos que se reorganizavam no pais lutando pela anistia e as eleições diretas e com as mais destacadas lideranças sindicais da oposição.
Lula estava lá. E também Olívio Dutra, líder dos bancário do Rio Grande do Sul. Perguntei a Lula :
– Quem é esse Olívio?
– É o melhor de nós. Olívio é quem vocês pensam que eu sou.
Também estavam lá Jacó Bittar petroleiro de São Paulo e outros dirigentes sindicais do ABC paulista, do Rio, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Pernambuco, Ceará, o pais quase todo.
Desde a primeira assembleia, um assunto centralizou os debates: o movimento sindical deve ter partido político? As lideranças sindicais devem entrar para partidos políticos?
Lula era totalmente contra. O argumento dele era que os sindicatos eram mais fortes do que os partidos políticos e a política descaracterizava o movimento sindical e desmobilizava os trabalhadores.
Durante dois dias discutimos muito. Estávamos lá um grupo de socialistas e trabalhistas, cassados ou não, ligados a Leonel Brizola (José Talarico, Rosa Cardoso, João Vicente Goulart, eu, outros). Defendíamos a reorganização dos trabalhistas e socialistas em um só partido, liderado por Brizola, que havia saído do Uruguai e ido para os Estados Unidos.
Lula não queria partido nenhum. Mas houve tal pressão de líderes sindicais de outros estados que Lula balançou. O argumento dele era que os sindicatos poderosos, como os do Rio Grande do Sul, de Minas, de São Paulo, do ABC, não precisavam de partidos. Mas, e os mais fracos, que eram mais de 90% no país? Esses necessitavam de cobertura política. Lembrei os sindicatos do fumo e cacau no Recôncavo e no sul da Bahia.
No último dia, no jantar, vi Lula mudando de posição. Já rouco discutir, pediu uma água. Veio, toda branquinha, em uma garrafinha. Pedi um gole. Era uma cachaça mineira. Pediu outra. E fez um belo discurso, caloroso, defendendo as lutas dos trabalhadores nos seus sindicatos. Mas não combateu mais os partidos. Concordou que era uma luta só.
De Criciúma Lula saiu direto para Belo Horizonte e Salvador. Foi conversar com os petroleiros de Minas e da Bahia, onde já o esperava o presidente do Sindicato do Petróleo e deputado socialista Mario Lima.
Walmor de Luca devia ter ganho carteirinha de padrinho do PT.
No dia 10 de fevereiro de1980, em um colégio de freiras, em São Paulo, sob as bênçãos da Igreja e nos braços dos trabalhadores do ABC, nascia o PT, o mais luminoso parto da história política brasileira. Mais até que a Revolução de 30, um parto das oligarquias, o PT era um filho do povo, comandado pelos trabalhadores e acalentado pelos estudantes nas faculdades, pelos padres nas sacristias. Sob as bênçãos de Deus.
Em Santo André, vigilante, firme e lúcido, Dom Jorge Marcos de Oliveira, o bispo do PT. Apoiando-o com seu quase silêncio e sua sabedoria o arcebispo Dom Evaristo Arns e Dom Balduino, Dom Pedro Casaldaliga, Dom Jairo Matos no sertão baiano. Logo o a melhor juventude brasileira começou a ver no PT uma tocha para as suas esperanças. E a universidade, que mal sabia onde ficavam os sindicatos, viu no PT o seu futuro. Mas de repente chegou o poder. E o PT mergulhou profundamente no lamaçal da corrupção.
BNDES
Lula, o operário do ABC, descobriu o dinheiro. E o triplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, o contubérnio com as empreiteiras e, mais grave, o escândalo dos escândalos que está surgindo agora nas lanternas da Lava Jato: os 50 bilhões de dólares do BNDES distribuídos com os ditadores amigos e em propinas externas que já estão surgindo.
O advogado Luiz Francisco Correa Barboza disse ao Globo:
-“Não só Lula sabia do Mensalão como ordenou toda essa lambança. Não é possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora”.
No dia 12 de agosto de 2005, em um pronunciamento, pela TV, a todo o povo brasileiro, Lula pediu “desculpas pelo escândalo”.
Os companheiros do partido no banco dos réus e ele, só ele, de fora. Logo ele que é o grande réu, “o réu”.
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