RIO –Na lagoa da fábula,os sapos pediam um rei. No sufoco da crise, os americanos pediam também um líder. Cinquenta e seis anos atrás, em 1960, como contei aqui na semana passada, vi os Estados Unidos na campanha eleitoral. Eisenhower, velhinho e exausto, Presidente. Vice-presidente e mafioso, e candidato ‘a sucessão, Nixon, imbatível. Contra ele, um jovem senador católico, aristocrata, milionário, cabelo na testa e cara de meninão bem comportado: John Fitzgerald Kennedy. Ninguém acreditava na candidatura dele.
No Brasil, ainda era um nome desconhecido. Lembro bem que a primeira vez que o li candidato foi numa crônica maviosa de Rubem Braga. Falava de outra coisa, uma borboleta amarela ou uma mulher nua, e de repente mandou um recado profissional: “Prestem atenção nesse nome. Pode ser ele”. Foi. Mas na imprensa brasileira ninguém o levava a sério.
Em Los Angeles, assisti ao famoso debate, cara a cara, pela TV, entre Kennedy e Nixon. Senti que havia no candidato democrata uma força qualquer além da pública esperteza de Nixon. E a reportagem que mandei, nas vésperas da eleição, dizendo que ele ia ganhar, quase não foi publicada porque em “A Tarde”, na Bahia, acharam um desparate.
Vinte anos depois, em 1980, no abrir-se da campanha eleitoral dos Estados Unidos para as eleições de outubro de 80, voltei lá e perguntei a um velho e sábio amigo, que vivia ali há muitos anos fazendo pesquisas econômicas, quem ia ser o novo Presidente.
– “Os americanos estão desesperados atrás de um líder para a crise. A situação não está boa. Claro, você chega, vê esta cidade, a mais rica e poderosa do mundo, vê esse império industrial avançando seus interesses sobre os outros países, vê esse império industrial avançando seus interesses sobre os outros países, vê o nível a que chegou a sua tecnologia, e pode imaginar que está tudo bem. Pois é um engano. Os Estados Unidos nunca estiveram às portas de uma crise tão grave, desde 1929. Não tem como comprar a sobras do banquete”.
CARTER E TRUMP
E o Carter?
– “Esse era um bestalhão. Aqui ninguém levava o Presidente a sério. O país o chamava de plantador de amendoim e eles estavam precisando era de um líder, plantador de certezas.O povo estava com medo. Havia uma desesperança generalizada e toda hora que surge um problema mundial, como agora no Irã, o país entra numa neurose coletiva perigosa. O Carter derrotou a indicação para candidato contra Ted Kennedy, mas é um Presidente incompetente, com aquela cara de noviça rindo forçado de um pecado que não é só dela”.
Os americanos mataram Kennedy, que era um sol deles. Insistiram em outro Kennedy, o Robert, eles mataram de novo. O Ted terceiro, o Ted, ninguém precisou matar, porque tomou um porre e caiu no rio com a secretaria.
A cada nova campanha eleitoral, os americanos correm atrás de um novo sapo para tira-los da lagoa de ouro. Vi em Boston, lançando sua candidatura, Ted Kennedy. Nada de novo:
“- O verdadeiro perigo está dentro de nós mesmos, pessoas, grupos, cultura. Ou temos imaginação suficiente para pôr em plenas funções a máquina delicada e inigualável que chamamos de democracia industrial, a única que pode levar o homem a uma nova época de bem-estar, ou então o mundo em que vivemos estará cada dia mais desequilibrado, inabitável, no sentido físico e moral, menos humano e menos aberto à esperança.”
“Antigamente, para nós, esta esperança obstinada na capacidade dos homens de resolverem problemas dos homens chamava-se sonho americano. Hoje, não pode mais ser um sonho apenas nosso, porque nenhum país, por mais forte, pode andar para a frente sozinho. Chegou a hora de construir qualquer coisa de novo”.
TED E TRUMP
Nada mais parecido com um americano do que outro americano. Nada mais parecido com um republicano americano do que um democrata americano. Por isso os Estados Unidos tão facilmente trocaram três Kennedys por um Trump e trocaram um Clinton e uma Clinton por um Trump. Sempre atrás de um sol para os sapos.