RIO – Agildo Barata, herói dos tenentes de 1930, dos capitães de 1935 e dos comunistas de 1945 (pai do querido Agildo Ribeiro, descendente do baiano Cipriano Barata, cirurgião, filósofo, deputado, mas sobretudo mestre do jornalismo de combate, cuja biografia o historiador Marco Morel escreveu) era o menor e mais valente dos prisioneiros de Fernando de Noronha, entre 1935 e 1945, na ditadura de Getúlio Vargas.

Um guarda enorme, bruto e violento, sempre armado, estava espancando presos, que se reuniram e encarregaram Agildo de falar com ele para dar um basta. Na hora da chamada matinal, todos no pátio, Agildo, baixinho, mãozinha miúda, deu dois passos à frente, ficou algum tempo parado diante do brutamontes, enfiou o dedo no nariz dele e disse que, na primeira vez em que ele batesse em um preso, iria matá-lo em público.

O guarda ficou parado, imóvel, arregalou os olhos e bomba!, caiu duro. Começou o corre-corre. Chamaram o médico do presídio. Antes dele, chegou chorando a mulher, debruçou-se sobre ele, gritando desesperada:

– “Meu amor, não morra! Você não pode morrer! Não me deixe!”

Punha a mão nos olhos, no coração, pegava o pulso, conferindo. Chegou o médico. Não adiantava mais nada. O guarda estava morto. A mulher gritava:

– “Doutor, me diga. Ele morreu mesmo? Será que não é só um desmaio?”

– “Não, minha senhora. Morreu. Acalme-se. Não há mais o que fazer.”

A mulher ajoelhou-se, enfiou os dedos nos olhos dele, convenceu-se e se levantou, sorrindo histérica:

– “ Graças a Deus, doutor! Ele está morto mesmo! Morreu tarde! Isso era um bandido, um canalha. Me batia, quase me matava todo dia. Morreu tarde. Todo poderoso, todo valentão um dia se acaba!”

 

***

 

Mais um grande brasileiro o pais perdeu neste fim de semana: Agildo Ribeiro, o humorista e ator inesquecível, tanto no Brasil como em Portugal. Como eu, ele também era de 1932. Tivemos ambos uma admiração profunda pelo revolucionário Agildo Barata, cuja edição de memórias revi anos depois para a Editora Saga, do baiano Hélio Ramos.

Ainda no Colégio Militar imitava os professores para uma plateia de colegas e preocupação dos pais. Depois do teatro de revista seguiu para o cinema e a televisão. E tomou conta do pedaço. Passava uma peça inteira fazendo a plateia rir. Como se definia, era arrumadinho, magrinho e bonitinho. E um talento explosivo.

É mais um amigo incomparável que se foi embora.

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