RIO – Augusto de Lima Júnior, historiador e filho de avenida em Belo Horizonte (o pai foi um dos patriarcas mineiros), criou a Medalha da Inconfidência, e Juscelino o nomeou Chanceler perpétuo. O governador só dava a medalha a quem Liminha aprovava.

Bias Fortes chegou ao governo, queria dar a Medalha de Tiradentes à sogra. Augusto de Lima Júnior protestou, não adiantou nada. Bias assinou o ato, Liminha pediu demissão e no dia seguinte O Estado de Minas publicava longa carta do chanceler demissionário, com o seguinte título: “Parir mulher de governador não dá direito a medalha”.

 

Morreu a mulher de Augusto de Lima Júnior. Alkmin não foi ao enterro, não telefonou, não telegrafou, não foi à missa de sétimo dia, não deu sinal de vida. E eram amigos íntimo de longa data. Liminha ficou indignado, nunca mais procurou Alkmin.

Uma tarde, encontram-se em Belo Horizonte, rua da Bahia, na Livraria Itatiaia.

  • Como vai, meu caríssimo Lima?
  • Vou bem. Até logo.
  • Por que a pressa? Noto que você esta triste. O que é que

significa essa gravata preta? Morreu alguém próximo?

  • Morreu sim, Alkmin. Morreu minha mulher.
  • Não me diga. Eu não sabia. Meus pêsames.
  • Ela deixou essa vida com nojo dos homens, cada dia mais

canalhas. Cada dia mais canalhas, Alkmin, até logo.

  • É isso mesmo, Lima. A vida não está mais para gente como

nós. A vida hoje é só mesmo para os canalhas. Gente como nós já não tem por que viver.

E abraçou Liminha, lágrimas nos olhos.

 

Augusto de Lima Júnior gostava muito de fazer discurso. Em 40, Getúlio o nomeou ministro Plenipotenciário do Brasil durante as solenidades de mais um centenário da independência de Portugal. Liminha chegou lá de discurso no bolso, feliz com a história e a retórica.

No dia seguinte, chega João Neves da Fontoura, ministro do Exterior, acompanhado de ilustre comitiva, e anuncia que vai falar em nome do Brasil. Liminha enlouqueceu. À noite, poucos instantes antes da solenidade, telefona para o hotel, diz a João Neves que chegou à embaixada um telegrama urgente do Brasil para ele.

João Neves corre para lá, tranca-se numa sala com Liminha para ler o telegrama, não havia telegrama nenhum. Quando João Neves começa a reclamar da brincadeira, Liminha sai, fecha a sala por fora. Os funcionários haviam saído, João Neves fica preso. Liminha vai à solenidade, lê seu discurso, tranquilo e orgulhoso.

Mal acaba, chega João Neves, suado, zangado, indignado, e, por cima, mentindo, pedindo desculpas às autoridades portuguesas pelo equívoco quanto ao horário, que o fez atrasar-se.

Voltou ao Rio, foi queixar-se a Getúlio. Getúlio caiu na gargalhada:

  • E você não sabia que o Liminha é maluco?

 

Artur Bernardes, que governou Minas e sitiou o País durante

quatro anos, cunhou a frase clássica: “Para os correligionários, tudo. Para os adversários, a lei, quando possível”.

Em 1918, Bernardes assumiu o governo mineiro e começou a demitir o outro lado. Era diretor da Imprensa Oficial o velho Augusto de Lima, adversário de Bernardes. Bernardes não quis demiti-lo logo e mandou um amigo conversar, para que ele pedisse demissão. O homem chegou lá sem jeito:

  • Augusto de Lima, como o senhor sabe, o Dr. Artur

Bernardes…

  • Já sei, já sei.
  • Vou falar logo, Dr. Augusto de Lima. O Dr. Artur Bernardes

mandou sugerir que o senhor peça demissão.

  • Alto lá. Ao adversário, não peço nada. Nem demissão.

No dia seguinte, Bernardes demitiu Augusto de Lima.

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