RIO – Ela vem voando, leve, linda, longe, toda branca. Como uma flecha de Deus. Vai chegando perto, cada vez mais perto, o bico estirado, as asas presas, os pés retos. A um metro. Vejo-lhe, perfeitamente, os olhos úmidos, miúdos, infinitos. Jogo um pedaço de pão, ela pega, passa. E faz uma doce, graciosa, sensual curva sobre o mar. É a gaivota. Um “claro” do Mar Egeu.

Outras vezes as vi, aqui, na primavera, no verão. É surpreendente que sejam as mesmas no outono e no inverno. O mundo inteiro tem gaivotas, as bailarinas do mar. Gostam de seguir os barcos, os navios. São inesquecíveis as de Rotterdam, Liverpool, Hamburgo, Nápoles. São marinheiras dos céus. Vivem sobretudo nos portos, nos golfos, atrás do que resta dos barcos no mar.

Mas, como as daqui da Grécia, os “claros”, jamais vi. Milhares e milhares, incansáveis, esquadrilhas voando baixo, rente ao navio, dando mergulhos nas águas balançadas ou sobre o convés. E são democráticas. Não invadem as ilhas e os portos das outras. Seguem os navios até certo ponto e voltam. Daí a pouco, quando começa a aparecer outro porto, outra cidade, outra ilha, lá vêm outras gaivotas, outros “claros”, não mais as que ficaram atrás, mas as dalí. E o balé sobre o navio e o mar começa de novo.

De avião, de carro com “ferry-boats” ou de navio, se vê a Grécia e suas ilhas encantadas. A vantagem do navio começa pelas gaivotas.

A lenda é a primeira doida da história. É ela quem diz que aqui em Santorini foi a Atlântida, de que falavam os papiros egípcios e sobre a qual escreveu Platão (no “Timeon” e no “Criton”): “Um grande e admirável Estado, soberano de outras ilhas, duas, uma maior e outra menor” (a maior era Creta e a menor Santorini).

Em 1625 antes de Cristo, o coração da ilha explodiu, o mar invadiu, formou uma grande baia, uma caldeira, de 10 quilômetros de comprimento e 7 de largura e as águas profundas de 400 metros.

É uma das mais belas e extravagantes paisagens do universo. Lá embaixo o mar muito azul, cercado de escarpas pretas, marrons, rosas, brancas e verde claro, que passam de 300 metros de altura e sobre elas as casas brancas, como de bonecas. Os gregos têm razão de dizer que é a mais bonita das ilhas gregas.

O centro é a velha cidadezinha de “Thera”, anterior ao Império romano, hoje Fira. Toda ilha não tem água nenhuma, nem rio nem lago. É só água de cisterna e de chuva. E o vulcão ainda é ativo. De quando em quando acorda de mau humor e cospe fogo. O solo vulcânico tem sua serventia: 36 variedades de uvas. A maior produção da ilha é vinho (“tinto, forte, levemente doce, que vem ganhando sucesso internacional”). Um dos vinhos é muito bom, ao menos o nome: “Nery”. É daqui o “Boutari”, o mais conhecido dos vinhos gregos.

O “Mosteiro de Profitis Elis” (profeta Elias), no alto da montanha, é um orgulho nacional: fundado em 1711, durante séculos, quando os turcos invadiram, ocuparam e devastaram a Grécia, foi uma escola secreta, ensinando a língua e a cultura grega.

Uma ilhazinha tão pequena (embora tão fantástica) recebe tantos turistas quanto o Brasil inteiro.

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