Publicações de Sebastião Nery

UM GENIO CHAMADO GLAUBER

RIO – Na boate do Hotel da Bahia, onde morava, em Salvador, em 1963, numa noite de sexta-feira, depois do jantar, eu ouvia o Blecaute, o negro cantor de voz calorosa, com suas canções americanas, acompanhado de uma jovem alta, esguia e bela, gaucha e também negra, bem negra, com olhos de amêndoa. Depois de cantar, veio sentar-se à minha mesa. Era a Leila. Entrou Glauber Rocha, agitado e falando

AS DUAS ESQUERDAS

RIO – Naquela noite de 1963, já quase 1964, Santiago Dantas jogou sua ultima cartada. Doente, muito pálido, falando com dificuldade, comido por um câncer atroz, já arrumando as gavetas da vida com a violência de sua luminosa lucidez, convidou deputados, líderes sindicais, dirigentes estudantis e, sobretudo, o comando da Frente de Mobilização Popular de Brizola, para uma conversa em sua casa da rua Dona Mariana, no Rio de Janeiro,

O BEIJO DE JUDAS

RIO – Juruna, o selvagem cacique xavante que até os 18 anos flechava avião voando baixo em Barra do Garças, Mato Grosso, estava comovendo o país, de gravador na mão, provando que, em Brasília, “governo de branco mente”. Juruna ficou indignado com o representante da Funai em Mato Grosso, que o enganou, e contou a um pastor que ia matá-lo e fugir para o Paraguai. O pastor ligou para Darcy

VI A MORTE NA TARDE AZUL

RIO – Treze horas na sala Vip do Aeroporto de Brasília. A “Frente de Redemocratização” se preparava para o voo da Vasp para Goiânia, onde fariam um comício. Sentados nas macias poltronas negras, Magalhães Pinto e dona Berenice, deputados Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, senadores Teotônio Vilela, Mauro Benevides e Evandro Cunha Lima, deputado do Rafael Almeida Magalhães, jornalistas Sílvia Fonseca, de O Globo, Marcondes Sampaio, Nélson Penteado e eu,

OS 5 DO PIANTELLA

RIO – Tarde de sábado no restaurante Piantella, o melhor de Brasília. Lula havia ganho as eleições presidenciais de 2002 contra o tucano José Serra e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT, discutindo com o PT gaucho a formação do novo governo. Um grupo de jornalistas estávamos a um canto, almoçando e conversando sobre o pais. De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira

A MORTE DA MURIÇOCA

RIO – Chegamos cedo, dez da manhã. O ex-deputado José Aparecido, o poeta Gerardo Mello Mourão, eu. Era um belo domingo de sol em São Paulo, na rua Santo Amaro, 5. Jânio Quadros veio abrir o portão, feliz, sorridente. Cortava a grama com um carrinho anavalhado.                Era 1970, a ditadura militar corria feroz. Todo mês, quando em São Paulo, Aparecido arrebanhava alguns amigos para almoçarmos com Jânio.  Foram chegando o

A VIDENTE DO ALVORADA

BRASILIA – Ela chegou com um sorriso aberto no rosto jovem e bonito, elegante, simpática, turbante na cabeça, colares, braceletes, joias esfuziantes nos dedos e um olhar distante, misterioso. Era dona Flávia, a mulher do presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, Mário José Batista, gauchão vermelho, com cara de terra e sol. Lembro-me bem, era 8 de março de 1985, meu aniversário. As testemunhas continuam ai: Carlos Monforte

A FALTA QUE FAZEM

BRASILIA – Um dia, quando sobre nossos dias ainda mais se dobrarem as páginas do tempo e a crua crônica daquele nosso tempo for totalmente escrita, muito se há de dizer daqueles homens que construíram aqueles tempos. Volto a Brasília anos depois e, como dizia o poeta, “em cada canto uma saudade”. Não há colinas como em Roma mas colunas como no Alvorada. Penso em Juscelino, Lucio Costa, Niemayer. Mas

GOLPE FOI ISSO

RIO – O Centro Edgard Leuenroth, da Universidade Estadual de Campinas, onde toda a documentação do Ibope está arquivada desde sua fundação, tem depositada uma documentação do Ibope provando que nas vésperas do golpe militar de 31 de março de 1964 a popularidade do presidente João Goulart era de 74%.O levantamento foi feito entre os dias 9 e 26 de março de 1964, incluindo oito capitais brasileiras, atestando que Goulart

O SUPREMO TELEFONE

RIO – No dia 11 de novembro de 1955, internado Café Filho, Presidente da República, com problemas cardíacos, o presidente da Câmara, Carlos Luz, que estava exercendo a Presidência da Republica, tentou demitir o general Lott do Ministério da Guerra, para impedir a posse de Juscelino e João Goulart, que haviam ganho as eleições de 3 de outubro. Mas não conseguiu. A Câmara reuniu-se, derrubou Carlos Luz e pôs Nereu