Sebastião Augusto de Sousa Nery rasceu em Jaguaquara (BA), no dia 8 de março de 1932, filho de Lindolfo Andrade Nery e de Eivira Sousa Nery.

De 1942 a 1950 estudou no Seminário de Amargosa (BA) e no Seminário Central da Bahia, em Salvador. Transferindo-se para Belo Horizonte, colou grau em filosofia na Universidade de Minas Gerais, em 1954, iniciando o curso de ciências jurídicas e sociais que só concluiria em 1958, na Faculdade de Direito da Bahia.

Repórter de O Diário, matutino ligado à Arquediocese de Belo Horizonte, no pleito de outubro de 1954 disputou uma cadeira na Câmara Municipal de Belo Horizonte na legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Eleito e diplomado, não chegou a assumir a cadeira: sua candidatura foi impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais sob a alegação de que as campanhas haviam sido feitas em nome do Partido Comunista Brasileiro (PCB), então na clandestinidade. O mesmo sucedeu a Orlando Bonfim Júnior, candidato a deputado federal, e a Élcio Costa, candidato ao Legislativo estadual.

Em 1956 trabalhou para o semanário Jornal do Povo, publicação vinculada ao PCB. Viajou a Moscou em 1957 e, de volta ao Bra­sil, após breve passagem por Minas, radicou-se novamente em Salvador. Contratado pelo Jornal da Bahia, em 1958, e no ano seguinte pelo jornal A Tarde, fundou o semanário Jornal da Semana (1959).

Em outubro de 1962, concorrendo na legenda do Movimento Trabalhista Renovador (MTR), em coligação com o PSB, elegeu-se deputado estadual, sendo empossado em fevereiro de 1963. Com a vitória do movimento político-militar de 31 de março de 1964 foi preso e recolhido a um quartel do Exército. Cassado pela Assembleia Legislativa no dia 28 de abril, recuperou a liberdade em agosto, conseguindo reaver sua cadeira quatro meses depois por determinação do Tribunal de Justiça do estado, uma vez que os deputados não tinham prerrogativa para tomar tal decisão, privilégio do presidente da República. No dia 23 de dezembro, porém, sofreu nova cassação. Escondido em São Paulo, no dia 5 de julho de 1965 teve seus direitos políticos sus­pensos por determinação do presidente Castelo Branco. Em outubro, o Superior Tribunal Militar o absolveu de todas as acusações, sem contudo devolver-lhe a cidadania plena.

Mudando-se para o Rio de Janeiro trabalhou no Diário Carioca. Com o fechamento do jornal, no dia 31 de dezembro de 1965, a convite de Reinaldo Jardim tornou-se editor político na recém-inaugurada TV Globo, onde permaneceria até 1970. Em 1968 assumiu uma coluna na Tribuna da Imprensa e, dois anos depois, foi contratado pelo Correio da Manhã. Em 1971, juntamente com Oliveira Bastos, fundou o semanário Folilika, fechado em 1974 em virtude de problemas financeiros e do ri­gor da censura. Processado em 1972 com base na Lei de Segurança Nacional por ter associa­do o primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Caetano, a Hitler e Mussolini, em artigo pu­blicado na Tribuna da Imprensa foi novamen­te absolvido pelo STM. Em 1975 assinou pela primeira vez a coluna Contra Ponto, no jornal Folha de S. Paulo, onde permaneceria até 1983. De 1978 a 1980 manteve um programa diário na TV Bandeirantes, de comentários políticos. Em 1979, deixou a Tribuna e levou sua coluna para a Última Hora.

De 15 a 20 de junho de 1979, participou do Encontro de Lisboa, que tratou da reorganização do antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sob a liderança do ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola. A iniciativa, no entanto, não teve a unanimidade entre os trabalhistas. Em oposição a Brizola, um grupo liderado pela ex-deputada Ivete Vargas também articulava no Brasil a retomada da legenda.

Com a decretação da anistia e o retorno de Brizola ao país a disputa acirrou-se. Em no­vembro de 1979, às vésperas do fim do bipartidarismo, ambos solicitaram ao Tribunal Superior Eleitoral o registro provisório da legenda. Em maio de 1980 o pedido de Ivete prevaleceu e os brizolistas decidiram criar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Fun­dador da nova agremiação, Nery foi eleito segundo vice-presidente da seção fluminense do partido e secretário da executiva nacional.

Em novembro de 1982, quando Leonel Brizola conquistou o governo do Rio de Janeiro, Nery elegeu-se deputado federal com 111.460 votos, sendo o segundo mais votado do partido. Empossado na Câmara Federal em fevereiro de 1983, foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o endividamento externo brasileiro e um dos articuladores da proposta de prorrogação do mandato do então presidente João Batísta Figueiredo e o retorno das eleições diretas em 1986, juntamente com a convocação de uma assembleia nacional constituinte.

Fracassada a iniciativa, em 25 de abril de 1984 votou a favor da emenda Dante de Oliveira, que previa o restabelecimento de eleições diretas para presidente da República já em novembro. Derrotada a proposição — fal­taram 22 votos para que fosse levada à apreciação do Senado — no Colégio Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985, Sebastião Nery apoiou o candidato oposicionista Tancredo Neves, eleito pela Aliança Democrática, uma união do PMDB com a dissidência do Partido Democrático Social (PDS) abrigada na Frente Liberal. Doente, Tancredo Neves não chegou a ser empossado, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo o cargo interinamente, desde 15 de março deste ano. Ainda em março de 1985, Nery foi expulso do PDT sob a alegação de “assumir postura indigna à convivência partidária” — o diretório nacional tomou esta represália ante a sua insistência em provar a existência de currupção no Departamento de listradas de Rodagem do Rio de Janeiro.

Retornando à Tribuna da Imprensa após o fechamento da Última Hora, Nery converteu Brizola no alvo principal de suas matérias. Filiado ao PMDB, vice-líder do partido na Câmara, em novembro de 1985 foi candidato a vice-prefeito do Rio na chapa encabeçada por Rubem Medina, do Partido da Frente Liberal (PFL), ambos derrotados por Saturnino Braga e Jó Resende, do PDT.
Em novembro de 1986 concorreu à reelei­ção na legenda do PMDB, mas não foi bem-sucedido. Deixou a Câmara ao término do mandato, em janeiro de 1987. Permanecendo em Brasília, tornou-se assessor especial do governador José Aparecido (1985-1988), acompanhando-o quando a partir de setembro de 1988 ele assumiu a pasta da Cultura.

Em março de 1989 Nery integrou-se à assessoria do candidato do Partido da Reconstrução Nacional (PRN) à Presidência da República, Fernando Collor de Melo. Após a eleição de Collor, em dezembro de 1989, foi nomeado adido cultural em Roma (1990-junho de 1991) e em Paris (fevereiro de 1993).

O cargo dependia de regulamentação do Congresso, razão pela qual o Tribunal de Contas da União enviou uma representação ao Ministério das Relações Exteriores, solicitando explicações sobre as nomeações de Nery e a do ex-porta-voz da Presidência, Cláudio Humberto, na época exercendo idêntica função em Portugal. Em setembro de 1992 a justiça deliberou pela ilegalidade das indicações.

Insinuando que o TCU havia tomado uma decisão política, Nery argumentou que nun­ca vira “uma instituição com tanto velho. Eles só descobriram o Brasil em 1992 (…) Durante a ditadura, 30 adidos foram nomeados, e no governo Sarney (1985-1990), outros 15 foram enviados ao exterior, apadrinhados pelo presidente (…) o TCU nunca tomou conhecimento”.

De fato a situação do governo não era das melhores. Principal personagem de uma CP criada no Congresso para investigar as atividades do seu ex-tesoureiro de campanha. Paulo César Farias, o presidente foi acusado de crime de responsabilidade por envolvimento num suposto esquema de corrupção. Em 2 de setembro de 1992 a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de um processo com impeachment e três meses depois Collor teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por oito anos pelo Senado Federal.

De volta ao Brasil, Nery continuou com coluna na Tribuna da Imprensa, republicada no Diário Popular, de São Paulo, na Gazeta de Alagoas, em O Estado do Ceará, na Gazeta do Paraná e em O Estado de Santa Catarina.
Em fevereiro de 1997 escreveu um artigo no jornal Folha de S. Paulo, acusando o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, de “destruir” a legislação social e trabalhista do país.

Escreveu diversas obras sobre a história cente do Brasil e o folclore político nacional entre elas: Sepulcro caiado: o verdadeiro Juraci (1962), Socialismo com liberdade (1974), 16 derrotas que abalaram o Brasil (sobre as vitórias do PMDB nas eleições de 1974), Portugal, um salto no escuro (1975), Pais e padrastos da pátria (1980), Folclore político (v. l, 2, 3 e 4 — 1973, 1976, 1978 e 1982), Sibéria, Nicarágua, El Salvador e outros mundos (19ÍS2), Crime e castigo da divida externa (1985), A história da vitória: porque Collor ganhou (em co-autoria com Cristóvão Buarque, 1990), A eleição da reeleição (1999).

Casado com Guaraciaba do Carmo Nery, teve dois filhos. Do relacionamento com Ana Elisa Figueiredo teve uma filha. Posteriormente, casou-se com Maria Cristina Oliveira.