19terçaAGOSTO2014              SEBASTIAO NERY

 

RIO – Como todo ano no fim do ano, estava numa semana de férias em Recife. Seis da tarde, tocou o telefone no hotel “Atlante”. Era o governador Eduardo Campos:

-Nery, bem vindo a Pernambuco. Soube que você chegou à cidade. Podemos conversar? Estou numa inauguração aqui em Porto de Galinhas. Que tal nos encontrarmos depois?

-Eduardo, aqui sou seu cadete. Diga onde e a que hora.

-Passo ai no hotel às oito, quando sair daqui.

Chegou, fomos para o restaurante. Não ia jantar, pediu uma vodca com fruta e queijo, pedi um vinho. Passamos em revista o Brasil e o mundo. Era um político em tempo integral. Saiu depois das duas da manhã.

 

EDUARDO CAMPOS

Como eu estava chegando de Paris, ele queria saber da campanha do Partido Socialista francês, que chances tinha nas eleições presidenciais.   Queria detalhes: como funcionavam as bancadas na Assembleia Nacional e no Senado; como a imprensa tratava o PS; que alianças o partido estava fazendo para enfrentar a poderosa direita francesa. (Eu disse que o François Hollande ia ganhar, acertei). Era um brasileiro cidadão do mundo.

Mas o quente da conversa foi minha primeira pergunta:

-Vai ser candidato a Presidente?

Impossível responder naquele instante. Não podia jogar Pernambuco para o alto numa aventura, quando estava fazendo administrações de sucesso. Tinha que esperar o debate presidencial esquentar para discutir o assunto dentro do seu Partido Socialista e com os aliados de governo. Por menos que dissesse, sai convencido de que acabaria candidato. Era a hora.          Escrevi uma coluna lembrando que a historia do Brasil mostra que imprensa e pesquisas erraram todas desde 1945: quem ia perder ganha. Em 1945 Dutra ia perder para Eduardo Gomes e ganhou. Em 1950 Getulio ia perder para o Brigadeiro e ganhou. Em 1955 Juscelino ia perder para Juarez Távora e ganhou. Em 1960 Janio começou perdendo para Lott e ganhou. Em 1989 Collor ia perder para todos e ganhou de todos. Terminei assim:

-Alô Eduardo Campos! No Brasil ganha quem ia perder.

 

OS MASCARADOS

No dia 27 de agosto do ano passado escrevi aqui:

-O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, mais uma vez honrou o legado de Arraes e mostrou que “quem sai aos seus não degenera”. O país não entendia como 27 governadores estavam acuados por esse punhado de fascistazinhos dos Black Blocs, filhinhos de papai de caras cobertas e roupas negras, aterrorizando e quebrando monumentos de centenas de anos, palácios, joias da arquitetura como o Itamaraty.

Jornais e TVs, grupos alegres da OAB, ONGs vadias, sem coragem de combater os criminosos, exigem que a policia “só aja no flagrante”, na e depois da quebradeira e a acusam de usar bombas, sprays, balas de borracha, “não ter limites”.  Às vezes não tem. É preciso denunciar. Mas como enfrentar vândalos encapuzados, drogados, estipendiados, pedras e molotovs nas mochilas, barras de ferros nas mãos?

-O país agradece ao governador Eduardo Campos a lição de decisão, transparência e cidadania. Proibiu mascarados nas manifestações em Pernambuco. Passeatas, marchas, protestos, são da democracia. Mas esconder-se atrás de mascaras para vandalizar vitrines e cidades, não.

-Ainda bem que o Brasil tem um governador sem máscara. Ao menos um.

 

SILVA JARDIM

A tragédia não avisa, não telefona, não manda e-mail. Há uma semana o Brasil chora a brutalidade que levou Eduardo Campos e seus companheiros. Quando o jornalista e combatente do abolicionismo e da Republica Silva Jardim desapareceu em Nápoles, tragado pela garganta de fogo do Vesúvio, José do Patrocínio deixou escrito para a Historia:

-“Grande brasileiro. Até para morrer converteu-se em lava”.

Como o querido e saudoso Eduardo Campos.

 

PEDRO VALADARES

Também Sergipe chora um jovem filho, amigo de Eduardo Campos: Pedro Valadares Neto, cheio de sonhos, três vezes deputado federal.

Nós, do “Diário de Pernambuco”, abraçamos nossa encantadora colega Cecilia Ramos, que perdeu seu companheiro Carlos Percol, E mais o Alexandre. E o Marcelo. A morte é estupidamente cega. “Palida mors pulsat”, disse Horacio. (“A pálida morte bate forte”).