RIO – A esquerda brasileira sempre foi ligada à esquerda francesa desde Montesquieu. Apolônio de Carvalho e André Malraux lutaram juntos   na Guerra Civil Espanhola e na resistência ao nazismo em plena França ocupada por Hitler. Na ditadura militar brasileira Brizola ficou amigo de Mitterand, dirigindo a Internacional Socialista do Brasil.

Miguel Arraes, exilado na Argélia, era amigo de Michel Rocard, Primeiro Ministro de Mitterand, presidente da França socialista. Lionel Jospin, primeiro ministro da França pelo Partido Socialista, é até hoje amigo dileto (foram colegas de estudo na Sorbonne) do médico brasileiro potiguar Kleber Morais, presidente da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Jack Lang, o grande motor da cultura da França nos governos de Mitterand, construindo a biblioteca Nacional François Mitterand, o Arco de La Defense, a ópera da Bastilha e tantas outras pérolas dos governos socialistas, tem amigos brasileiros de norte a sul.

Todos esses e tantos outros, de uma maneira ou de outra estenderam a mão para os exilados brasileiros. Não foram só eles. Portugal e União Soviética foram exemplares mas em nenhum país como na França os partidos Comunista, Socialista e tantos outros, deram casa e comida aos desterrados brasileiros na ditadura militar. Agora, pela primeira vez em séculos o abraço político da França à esquerda brasileira está sendo

dado pelo partido Socialista e outros fora do poder. Ainda não se sabe como será Macron no seu próximo mandato.

Viver é um acontecimento político. A política está presente no cotidiano de todos e se alargando em todas as relações sociais e econômicas. Aristóteles, em “Política”, na velha Grécia, afirmava:

– “A política é a ciência da felicidade humana”.

Séculos depois, o gênio S.Tomás de Aquino ratificava:

– “A política é a arte de formar homens e administrar visando o bem comum.”

Platão, professor de Aristóteles, advertia:

– “Não há nada de errado com quem não gosta de política. Simplesmente serão governados pelos que gostam.”                                                        Os três deixam implícito que é preciso separar a política que visa o

bem comum dos politiqueiros e da politicagem.

A política afeta a vida de todos. Só a participação consciente da

Sociedade pode exigir políticas públicas fundadas na construção de realidade mais justa e com oportunidades iguais para todos. Os homens e mulheres que fogem da política e do supremo ato de lutar pelo interesse comum, garantem a sobrevivência e vida longa para os dilapidadores do interesse público. Legendas partidárias no Brasil, na sua quase totalidade, representam a antipolítica. Estima-se que 90% dos eleitores não se sentem representados por nenhum partido.

Em 1793, Robespierre à frente do governo definiu o que deve ser a ética pública:

– “As funções públicas não podem ser consideradas como sinais de superioridade, nem como recompensa, mas como deveres públicos. Os delitos dos mandatários do povo devem ser severa e agilmente punidos.”    Dois séculos depois, o seu pensamento seria incorporado na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”.

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