RIO – A sabedoria política nacional acha que ela só existe em Minas, Bahia, São Paulo, no nordeste e no sul maravilha. No entanto ela está espalhada de norte a sul. Por exemplo: o Pará teve um José Maria Alkmim que durou décadas: João Botelho.

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João Botelho foi candidato a prefeito de Belém. Passou o dia inteiro anunciando um comício à noite, na praça Brasil. Chegou lá, não havia ninguém. Imaginou um engano, perguntou ao secretario.

  • Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma?

Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no

centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado:

  • Socorro, socooorro, socoooooooorro!

Correu gente de todo lado para ver o que era. Assegurada a plateia,

ele começou o comício:

  • Socorro para um candidato…

E fez o comício.

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Deputado do Rio, passou muito tempo sem ir a Belém. Quando foi,

encontrou na rua o filho de um grande amigo:

  • E o velho? Ainda não tive tempo de abraça-lo.
  • Papai faleceu, deputado.

Desculpou-se como pôde, a vida absorvente do Congresso, a longa

ausência da terra:

  • Aceite minhas condolências, extensivas a todos os seus.

Dias depois, volta a encontrar-se com o rapaz:

  • E o velho?
  • Eu já disse, deputado. O papai faleceu.
  • Ah, foi mesmo. Esta minha cabeça! Mas nunca é demais

renovar a expressão de meu pesar.

E deu-lhe um longo abraço. Semanas depois, novo encontro. Foi começando:

  • E o velho?

Mas emendou logo:

  • O velho sempre morto, não é? Sempre morto.

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Secretário de Segurança, recebeu em audiência um capitão do

Exército, fardado:

  • Tenha a bondade, major.
  • Major, não, doutor Botelho, capitão.
  • Mas é major na promoção de minha amizade.

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Encontra o cabo eleitoral:

  • Como vai? E a diletíssima esposa? E as crianças?
  • Tudo bem, deputado. A mulher está ótima. Mas, por enquanto,

é um menino só.

  • E eu não sei que é um filho só? É um menino, certo, mas que

vale por muitos. Então, como vão os meninos?

*

Já fora da política, no Rio, precisava conseguir uns esclarecimentos no Instituto Félix Pacheco. Ia saindo, o colega da Procuradoria da Caixa Econômica chamou a atenção para o calor desesperado que fazia lá fora:

  • Mas você sair daqui desse ar refrigerado e enfrentar o sol da

avenida, a pé, até a rua Venezuela? Por que não telefona?

  • Pelo telefone eles não informam.

Ligou, fez voz macia:

  • Meu filho, aqui fala Monsenhor Botelho, do Palácio São

Joaquim. O senhor cardeal deseja uma informação.

O funcionário anotou, saiu do telefone alguns instantes e voltou com todos os esclarecimentos.

– Muito obrigado, meu filho. Que Deus abençoe e a mim não desampare. Quando puder venha tomar um café com o velho Monsenhor Botelho.

nerysebastiao@gmail.com