RIO – Estudante em Belo Horizonte, na década de 50, a “Republica da JUC”era santo abrigo: casarão cercado de jardins, frutas e flores, quase esquina com a Av. Amazonas, a 200 metros da Faculdade, dirigida pelo santo padre Viegas e liderada por João Bosco Cavalcanti Lana, da JUC de Direito.

A Universidade quase toda representada ali: José Gerardo Grossi, o grande advogado e ministro, já tinha cara de advogado. Fabio Lucas, hoje consagrado escritor e critico literário, já escrevia e publicava.

Um alemão, vizinho, que morava sozinho, tinha um cão enorme, pastor alemão, que latia a noite toda. Não deixava ninguém estudar, ler ou dormir em paz. Alguém teve a idéia de dar um bolo com veneno, logo eliminada. Creio que foi do Fabio Lucas a idéia genial. Um anuncio no “Estado de Minas”:

– “Por motivo de viagem urgente, doa-se um belo pastor alemão a quem prometer cuidar bem dele. Favor comparecer às seis da manhã de amanhã, rua tal, numero tal, tocar campainha”.

O alemão quase enlouqueceu. A fila foi lá na Avenida Amazonas. Não adiantava ele gritar que era mentira. Todo mundo mostrava o recorte do jornal. À tarde, ele procurou padre Viegas e fez um pacto de paz: o cão não ia mais latir de noite. E cumpriu.

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José Gerardo Grossi, da Faculdade de Direito e da “Republica da JUC” e o Aloísio Ordones, meu colega da Filosofia, convidaram-me para uma reunião onde seriam discutidos os problemas da Universidade e do pais. Fui. Lá, fiquei sabendo que era um encontro do “Comitê Universitário da UJC”, a União da Juventude Comunista. Discutiram-se teorias e posições políticas. Mas sobretudo se tratou do que e como fazer.

Troquei de letras. Da JUC, passei para a UJC. E com tarefas concretas. Como orador do Diretório, que tinha seu jornal oficial, o “Filosofia”, minha primeira tarefa foi fundar, dirigir e ser o responsável por um pequeno jornal mimeografado que exprimisse nossas posições sem dizer que eram as propostas da UJC. E nasceu “A Onda”.

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Primeiro ano de Faculdade, orador do Diretório Acadêmico, saí de Uberaba eleito para o Parlamento do Estudante Mineiro. Foi meu batismo em congressos de estudantes, a que compareci a quase todos, nos três anos de Filosofia e nos cinco de Direito.

Em Uberaba, nós, da oposição (Dario de Paula, Helio Pontes, Fabio Lucas, Mauricio Leite Junqueira, Rivadavia Xavier Nunes, Paulino Cicero, Moacir Laterza, João Bosco Lana, Adônis Moreira, José Gerardo Grossi, eu, tantos outros) fomos dispostos a disputar a diretoria da UEE (União Estadual dos Estudantes), com chapa própria, no voto, na democracia.

O presidente da UEE e do congresso, o Andradinha, era uma parada. Desde o primeiro dia começou a lutar para não perder a eleição. Vetava delegados, obstruía os trabalhos. A cada hora as sessões e os debates iam ficando mais difíceis, mais complicados, mais tensos, com a mesa usando e abusando do direito de ser situação.

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No século passado a Faculdade de Direito de Minas era uma das mais importantes do pais. E se não era a mais agitada, como a Filosofia, era o mais importante centro universitário do Estado. Comandava a UEE (União Estadual de Estudantes).

Na década de 50, lá estavam e vivamente atuando no movimento estudantil, Helio Garcia depois governador, Murilo Badaró depois senador e ministro, Bonifacio Tamm de Andrada, o Andradinha, até hoje deputado, Genival Tourinho, Nelson Thibau, também deputados, Rivadavia Xavier Nunes, depois político em Goiás, José Gerardo Grossi, jurista, ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Sepúlveda Pertence, depois ministro do Supremo Tribunal Federal, Geraldo Nunes, Fabio Lucas escritor, e numerosos outros.

Sexta-feira, morreu em Brasília, 86 anos, José Gerardo Grossi. Um patriota e um homem universal. Ajudou iluminar nossa juventude.

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