RIO – Há séculos os irlandeses nos ensinam esta lição. Nosso eterno poeta, o Paulo Mendes Campos, traduziu em versos de luz:

“UMA VELHA BENÇÃO IRLANDESA

Que a benção da luz

seja contigo, a luz exterior e a luz interior.

 

A Santa luz do Sol

brilhe sobre ti e aqueça teu coração até que ele

resplandeça como um grande fogo de turfa, e assim

o forasteiro possa vir e nele se aquecer, como também o amigo.

 

A luz brilhe

de dentro de teus olhos, como a candeia colocada na

janela de uma casa, oferecendo ao peregrino um refúgio

à tormenta.

 

E a benção da

chuva, a chuva suave e boa, seja contigo. Que ela

tombe sobre tua alma para que as pequenas flores

todas possam surgir e derramar suavidade na brisa.

A benção das grandes chuvas seja contigo,

caindo em tua alma para lavá-la bem lavada,

e nela deixando muitas poças reluzentes, onde o azul

do céu possa brilhar, e às vezes uma estrela.

 

E a benção da

terra, a grande terra redonda, seja contigo; sempre

tenhas uma saudação amiga aos que passam por ti

ao longo dos caminhos. A terra seja macia debaixo

de ti quando nela repousares, cansado ao fim do

dia, e leve ela descanse sobre ti, quando no fim te

deitares debaixo dela.

Tão leve ela descanse sobre ti, que a tua alma cedo

se liberte de seu peso. livre e leve, no caminho de Deus.

 

E agora o Senhor

te abençoe, com toda a bondade te abençoe.”

 

Mas também há instantes de dor. O Anjo Azul foi um bar de Salvador por onde passaram gerações de poetas ou de boêmios. No golpe militar de 1964, há meio século, alguém não gostou de um pequeno poema meu pendurado na parede. Sua ira explodiu em um tiro que perturbou a madrugada. Eram apenas versos tristes de um sonolento jornalista:

 

NO ANJO AZUL

 

Há um hálito de dor nestas paredes

Há arcanjos ensanguentados arrastando sombras neste chão.

 

Aqui o teto escuro escancara a boca em vigas tortas

E vai pingando, babando, gotas de solidão em minha’alma.

Aqui meus fracassos como cobras escorregam mágoas no cimento cansado e mulheres de olhos mortos choram crianças que eu não fui.

Aqui a vida explode

o tempo não anda

a morte não mata.

Você não é o meu amor.

 

nerysebastiao@gmail.com