SALVADOR – No dia 28 de janeiro de 1938, Getúlio Vargas escreveu em seu “Diário” (Editora Siciliano/FGV, vol. II, pág. 176):
-À noite, procura-me a Alzira (a filha Alzira Vargas) dizendo que a mulher do livreiro José Olimpio, que editara “A Nova Politica do Brasil” (livro de Vargas em vários volumes), procurara-a chorando para dizer que o meu telegrama circular aos interventores, desaprovando a compra do livro, arruinava moral e materialmente seu marido. Fiquei realmente penalizado, mas não podia voltar atrás, porque quem me prevenira que se estava fazendo exploração para forçar a venda do livro fora o interventor de São Paulo (Ademar). Passei mal esta noite. Não pude dormir. Levantei-me e fui trabalhar até às três horas da madrugada. Excesso de fumo e café.
Até 1º de maio de 1942, quando o “Diário” se encerra, Getúlio não toca mais no assunto. Como podia ter feito aquilo com quem continuou editando seus livros, inclusive a serie “O Governo Trabalhista do Brasil”?
GETÚLIO
O mistério só foi decifrado mais tarde. O jornalista Arlindo Silva, da revista “O Cruzeiro”, publicou reportagem na edição de 19 de abril de 1947, sobre a administração de Ademar de Barros em São Paulo (“O Governador Presta Contas”). Ademar tinha sido interventor de 1938 a 1941 e foi eleito governador para 1947 a 1951. Arlindo Silva reproduziu o recibo da “Livraria José Olympio Editora”, referente à venda de 5 mil coleções dos cinco primeiros volumes de “A Nova Política do Brasil”, em 13 de dezembro de 1938, por 315 contos de reis.
Entre 28 de janeiro e 13 de dezembro de 38, Getúlio, que não confiava em telefone (desde aquela época), deu um jeito de mandar pedir (ou ordenar) a Ademar que resolvesse o problema. Ademar resolveu.
JOSÉ OLYMPIO
Essa é uma das numerosas historias e documentos de um livro-monumento, do incansável jornalista, pesquisador e também grande editor (da Topbooks) José Mario Pereira, sobre 60 anos (de 1931 a 1990) de pioneirismo de um “civilizador do Brasil”, José Olympio Pereira Filho:
-José Olympio – O Editor e sua Casa (Editora Sextante).
São 421 páginas, projeto gráfico do consagrado artista Victor Burton, primorosamente impresso, com centenas de ilustrações, fotografias, documentos e a capa dos principais livros editados por José Olympio em meio século (nasceu em dezembro de 1902 e morreu em maio de 1990).
José Olympio foi sobretudo um liberal da cultura e da política, um homem sem preconceitos, aberto a todas as ideias e todos os debates.